sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

ENCONTROS AO LUAR


TRES
HOTEL
O Hotel estava no ruge-ruge de todos os meios dias. O mundo todo a conversar asneiras. O tema principal: Hitler. Uns a favor e outros contra. Era tudo que se notava. Para alguém, Hitler era um infame. A maiorias, ele nem era estadista. Um borra-botas. E assim os que estavam contra soltavam gargalhadas. Hitler foi um político alemão que sérvio de líder do partido nazista. O Fuhrer ou Líder. Tendo perdido a Guerra, Hitler escapou do seu país em submarino indo ficar na Argentina. Todos acreditam nessa versão menos uns poucos, defensores do Nacional Socialista partido do Reich alemão. A Guerra trouxe vítimas. Natal era a nação onde nada se ouvia falar sobre esse atentado inglório. Mesmo as músicas alemãs eram proibidas de se ouvir tocar nas casas dos abastados. Quem era do contra, esses mesmos nada falavam. As casas de discos nem se ouvia tocar o Hino Alemão. Assim prosseguia através dos anos e dos tempos as histórias sobre a Alemanha nazista que logo se acabou com o final do conflito. Não se sabe nem quantos morrera, ou ficaram. Como diria alguém: “foi o fim do mundo”.
Olga Passos adentrou no salão do Grande Hotel pouco antes do meio dia. O homem de seus 60 anos estava ao piano a interpretar música boêmia. A moça percorreu com sua astucias se ali estava o doutor Eduardo Rizzo. Mas o homem não tinha aparecido ainda. Ela foi até o balcão e conversou com o gerente a solicitar uma mesa solitária que não tivesse acompanhante naquele momento. E adiantou:
Olga
--- Estou à espera do doutor Rizzo. - - sorriu devagar
O gerente buscou uma mesa perto de porta ao lado de fora e indicou à moça.
Gerente
--- Ali tem uma. Quer ser servida agora? - - indagou
Olga
--- Só um cálice de vinho tinto de Borne. - - respondeu.
À mesa Olga Passos se abordou com calma a ouvir o barulho infernal das criaturas a debater algo sobre guerras já acabadas faz tempo. Entre barulhos e algazarras o mundo girou sem fim. De repente, ela observou a figura que entrava. O doutor Eduardo Rizzo. Se era doutor, ela nem sabia, Mesmo assim Olga o chamava de Doutor. Para a moça, assim era mais chique. Rizzo foi até o balcão e o gerente disse que alguém já o esperava há algum tempo.
Gerente
--- Peixe ou costela de carne? - - indagou
Rizzo
--- Espere. Eu vejo daqui há pouco. Vou percorrer daqui à moça. - - sorriu
Gerente
--- Tem um quarto! Se quiser? - - observou
Rizzo
----Quarto? Quarto? Talvez! - - dialogou
Eduardo Rizzo se acercou da mesa onde estava assentada a moça Olga Passos e começou a dialogar com os casos da manhã como exemplo a história do temporal da noite passada. E ela entrou na conversa.
Olga
--- Foi chuva demais. Aliais, no sul o tempo é rigoroso. São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais. É muita chuva. Aqui, é chuva fraca. – falou
Rizzo
--- Pois é. Aqui, houve falta de energia por conta do Baldo onde fica a empresa de Luz. - -
Olga
--- Aqui é como no Rio. A Light, quando desliga, é falta de energia total. Água e Luz.
Rizzo
--- Estás tomando vinho? - - surpreso
Olga
--- Um cálice de Borne. - - sorriu
Rizzo
--- E o almoço? - - perguntou
Olga
--- O que você quiser. Fígado. Que achas? - - indagou
Rizzo
--- Ótimo. Fígado ao molho e vinho Bordeaux. Excelente! - - dialogou.
O vento forte se fez presente ao meio dia e mais um pouco. Uns faziam algazarra. Pedintes pedia esmolas, o casal só pensava no sabor da comida a sorver com paciência. Conversas amenas, monólogos solventes, coisas do arco da velha. Nada de sexo. Apenas conversas. Longa história contada ao pé da fogueira, por assim dizer. Uma sessão de cinema e nada mais. Assim terminava o dia.
Olga
--- Hoje é quita feira! - - disse a moça meio zonza
Rizzo
--- Que tal um cinema? - - indagou
Olga
--- NO SILENCIO DA NOITE. Um bom filme. - - pensativa
Rizzo
--- De Nicholas Ray com Humphrey Bogart. - - comentou.
No dia seguinte, a moça despertou logo cedo. Às 9 horas Olga saiu e foi rever livros antigos ainda existente nas bancas da livraria da Ribeira. O dia estava ameno, o povo a passar para um lado e outro. O vento do rio soprava leve assim como a brisa. Um homem chamado de Doutor Choque passava de modo fiel e contente oferecendo bilhetes de apostas da semana. Mulheres da Vida caminhavam de braços dados, sorridentes e felizes pela principal Rua Doutor Barata, uma das demais vias da postada avenida Um andarilho pedia esmola com uma voz rouca. Era essa a labuta da continua artéria. Olga adentro na livraria, viu alguns alfarrábios e deu uma volta para indagar a um dos rapazes.
Olga
--- Você tem algo sobre Hipócrates da Grécia Clássica? - - indagou
O rapaz deu meia volta, consultou a coletânea e encontrou um dos tais. Mais que depressa votou com o livro para mostrar a senhorita. Ele nunca a olhara antes daquele instante. Suas curvas bem torneadas deram vontade de o rapaz saber o seu nome. Mas o modesto homem se conteve em atender aquela esguia donzela.
Atendente
--- Senhora. Temos sim. Hipócrates. É um pouco desgastado. Porem está bem servido. – disse
Olga
--- Está velho mesmo. Mas eu não encontrei em outro lugar. Quanto custa? - - indagou
Feito o acerto, a moça deu bom dia e saiu sem pressa a procura de outro destino. Olga examinou a hora em seu pulso e rumou em direção ao Cais do Porto onde se podia enxergar por vezes as aves marinhas, os barcos já meio acabados, a ponte antiga de Igapó que, um dia, fez a vez de trazer passageiros de um lado para outro. Tudo isso, Olga se lembrou naqueles idos instantes. O vento morno dava a vez da jovem moça recordar tais belos instantes. Um trem de ferro apitou alertando os transeuntes. De repente, a máquina passou tão depressa quando a jovem, curiosa, por vez percorreu em suas lembranças o que somente podia viver.
Olga
--- O trem de ferro. Lembranças. - - entristecida
Era longo o trem de ferro. Carros e mais carros. Com o passar do tempo ela ouvia bem longe o trotar dos vagões. Depois de tantas andanças, sem marcos nem velas foi a vez da moça partir para distante. Já era tarde da manhã e Olga Passos tornou a viver o esquecido momento de glória e de ardor. Ela pouco observou o homem vendendo jornais de ocasião. Era assim o seu instante de triunfo.
Quase meio dia. Olga adentrou o salão do Grande Hotel e segui para o baião da gerência. E ali foi bem recebida pelo gerente que de imediato veio dá bom dia e a sorrir indagar se esperaria pelo “noivo”. A moça sorriu. Disse apenas.
Olga
--- Espero, sim. Traga-me um vinho. - - sorriu.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

ENCONTROS AO LUAR



DOIS
PIPOCA
A chuva torrencial a cair deixava as ruas cheias. Relâmpagos e trovoes eram o início da tempestade de verão daquele ano. As aguas caiam aos borbotões em toda a cidade. Os próprios Bondes já não aguentavam e pararam no meio da estrada. Na Ribeira, um Bonde parou no meio da pista. Havia falta de luz na estação mantenedora da energia, a Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil, única empresa fornecedora existente em Natal. Era água por todo lado. A ventania cobrava o preço do tempo. A chuva era impiedosa, castigando vivos e mortos. As águas da tempestade cobriam o solo, obstruíam as calhas, faziam roncos como o monstro enraivecido. As águas subiram bem depressa vindas de bairros próximos como Petrópolis, Cidade Alta e outro bairro, como Rocas. A Ribeira se encheu de lama. O rio Potengi estava cheio com suas águas por todo lado. Dessa forma, ninguém podia passar de um lado para outro. Ruas Chile, Doutro Barata, Frei Miguelinho, Rua das Virgens, Duque de Caxias, Rio Branco e tantas outras. Enfim, era o caos. O Teatro Carlos Gomes soçobrou com a lama a meio pau. Sessenta centímetros a encher o salão das artes. Nesse ponto, Eduardo Rizzo mandou um servidor buscar um motorista de praça conhecido por Pipoca. José Pipoca da Silva conhecedor da cidade. Depois de muita reclamação, o serviçal foi buscar o motorista se atolando nas águas lambuzadas. Já distante, o serviçal ainda ouviu do seu senhor.
Rizzo
--- Diga que é para mim, que ele vem!! - - gritou para o serviçal
Serviçal
--- E se ele não estiver na praça? - - perguntou de volta
Rizzo
--- Traga outro. Ou espere chegar um dos motoristas. - - deu de volta
A chuva copiosa caía sem cessar com passageiros de Bonde à espera de algum carro que passasse ou mesmo um caminhão, uma caminhonete e até mesmo um burro. O dia estava acabando de vez. As repartições começaram a fechar suas portas e a Recebedoria já não podia nem mais receber os extratos de conta. Relâmpagos e trovões continuavam em toda Ribeira e em outras partes da capital e em todos os lugares bem mais remotos. Nesse instante, chegou o motorista Pipoca e estacionou na porta ao lado onde Eduardo estava à espera coçando a barba. Vinha também o serviçal.
Pipoca
--- É chuva, patrão. Desculpe a demora. Eu estava com outro passageiro. O rapaz aqui me explicou. Agora vamos nós. Para onde o senhor quer ir? - - falou Pipoca
Rizzo
--- Boa tarde velho amigo. Não sou eu só. Tem uma senhorita. Dona Olga. Ela vai ensinando o caminho. É na Cidade Alta. Eu vou buscar uma prancha para a moça não se molhar de toda. Espere. - - falo apressado
Depois de tudo, o carro seguiu caminho. Hora lento, hora depressa. Até alcançar a rua da Cidade. Olga insistiu em pagar. Mas Eduardo não quis receber. Olga antes de dizer “obrigada”, desceu do carro, na rua da Estrela e saiu correndo para destro de casa. Já em casa ainda agradeceu a espera pôr a moça. Eduardo fez de conta que ouviu. E disse até logo. Ainda no carro, Eduardo anotou o endereço de Olga e guardou o apontamento. Dali então rumou para a sua casa, na Praça Pedro Velho. Agradeceu ao motorista José Pipoca pela espera e o aguaceiro impiedoso e constante, o pagamento da conta, e saiu apresado para não se molhar de todo. Estava faltando luz na sua casa e nas demais. Eduardo indagou a doméstica.
Rizzo
--- Não tem vela aqui? - - indagou
Doméstica
--- Tem um pacote de velas. Sua mãe mandou comprar no sábado. - - explicou
Rizzo
--- Ainda bem. A Estação deu pane. A chuva. Como não tem luz, eu vou tocar piano. - -
Doméstica
--- Sua mãe está no quarto. Ela está rezando. Parece. - - articulou sem sorrir
Rizzo
--- Tem café? - - indagou
Doméstica
--- Sim. Está pronto. Tem bolo também. Sanduiches. Tem de tudo. - - explicou
Rizzo
--- Família rica só dá isso! - - gargalhou como se aquilo fosse verdade.
Já estava em 9 horas da noite. A luz chegou devagar acendendo para uns bairros e outros não. Na rua de onde morava a moça Olga Passos havia luz elétrica em algumas casas. Olga ficou contente por ter surgido luz.
Olga
--- Olha!!! Viva a luz. Eu já não tinha esperança. - - anunciou a moça cheia de alegria
Percília
--- Graças a Deus. Apague as velas! Já era tempo. - - relatou a sua mãe Percília.
A moça, mais que depressa iniciou o fim do apagão. Enfim veio a luz. Aos poucos em quase toda a cidade havia luz elétrica. Menos nos locais ermos e distantes, como Areia Preta, onde só havia mocambos, casas de palha e outros mais rústicos como Belo Monte, Lagoa Seca, um arruado pertencente ao cabo Belchior Pinto que trabalhava na Fortaleza dos Reis Magos em tempos antigos por volta de 1719. Quintas? Nem falar. Olga Passos estava feliz da vida. Ela sorria e gritava a um só tempo. O telefone de casa tocou três vezes. Olga atendeu. Nem sabia que era.
Olga
--- Pronto. Quem fala? - - perguntou depressa.
Rizzo
--- Sou eu. Chegou luz por aí? Sou Eduardo. Tudo bem? - - indagou
Olga
--- Menino? Como você sabe meu telefone? - - respondeu
Rizzo
---Sabendo! Não tem lista telefônica? Pois é. Ainda chove em Natal. E você? –
Olga
--- Não acredito. Ah. Tem sim. Como você soube? Ah meu Deus! Você apronta cada uma!
Olga sorriu e quase chorou. Ela estava quase assustada. Receber um telefonema àquela hora de um homem desconhecido? Era o ponto da discórdia.
Rizzo
--- Não apronto! É o cuidado que eu tenho por você. Sabe? A gente anda para m lado e para outro e se depara com uma moça que nem conhece. É isso. - - comentou
Olga ficou assustada com tanta cortesia àquela hora da noite. Mas, enfim, respondeu.
Olga
--- Mas, desculpe-me se eu sou assim inquieta. Onde você mora? Desculpe-me! - - perguntou
Rizzo
---Onde eu moro? Bem perto de você. Moro na Praça Pedro Velho. Aqui bem perto. –
Olga
--- Nossa Senhora! Jura que é verdade? Você tem esposa ou alguém que cuida de você. –
Rizzo
--- Ah, Tenho. Minha mãe. O meu pai morreu há alguns anos. Sou eu e minha mãe. –
Olga
--- É verdade? Não me engane! Se não. ....
Rizzo
--- Se não o que? Eu não minto! Nunca menti! E nem hoje. Pra que mentir? Se não quiser conversar mais, eu desligo! Mas é essa a verdade.
Olga
--- Não. Não. Espere. Eu sou assim. Desconfiada. Mas, me desculpe. Sou chata mesmo! - - sorriu
Rizzo
--- Tudo bem. Não tem importância. Amanhã nós voltamos a conversar. - - se desculpou.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

ENCONTROS AO LUAR



CAPÍTULO UM
ENCONTRO
Já era quase meio-dia. O pessoal dos despachos já havia saído. Outros, porem chegavam para tomar o seu lugar. No rio, um navio apitou bem forte com que avisando ter de partir. Homens, mulheres e rapazes já grandinhos eram dos tais que tinham de sair dos seus ofícios e pegar o Bonde atrasado seguindo para os seus lares ou mesmo para um ou outro restaurante qualquer. Mecânicos faziam algazarra a jogar conversa a fora enquanto as garçonetes serviam lanches. Um bêbado cuspia para um lado antes de tomar sua carraspana pedida. Um soldado conduzia um ladrão pegado pela cintura com as calcas desabotoada. Naquela hora, Eduardo adentrou ao Hotel em um ambiente quase cheio. Ele cumprimentou aos presentes, inclusive ao pianista, um homem de pouca estatura, talvez um metro e sessenta, e esse retribuiu com o toque de música erudita. O garçom atravessou com pressa o meio ambiente sem notar a presença de Eduardo. Logo adiante, Eduardo Rizzo se encontrou com o gerente do Grande Hotel a quem indagou.
Rizzo
--- Tem peixe Cioba? - - perguntou quase sorrindo
Gerente
--- Sim. Tem. Ao seu gosto. Tem vinho também. - - relatou
Rizzo
--- Branco Cotes du Rhône? Bom. Sirva à minha mesa. - - explicou apontando o local.
O gerente chamou o garçom e disse algo esclarecendo a mesa ao lado de fora. O local estava quase atestado de gente rica. Rizzo escolheu a mesa onde só continha uma cadeira e ficou a folhear jornal do dia. Gente muita a conversar algo sobre a Guerra. Essa já havia acabado, mas não deixava de dar assunto. Uma mulher ainda jovem estava sentada em uma cadeira a ler uma revista de Modas. Bem perto da moça, estava Rizzo. O vento soprou forte invadindo o salão sem perturbar os presentes. A moça se chamava Olga Passos. Atento, sem preocupação, Rizzo viu na bolsa da jovem o nome gravado. Não disse nada. Apenas a olhava desviando a visão da senhorita para outro lugar. Um ponto qualquer. Olga usava luvas cobrindo as mãos. Isso apagou a ideia de o rapaz saber ao certo se era ela casada ou solteira. Eduardo Rizzo ainda era jovem, rapaz de trinta anos. Ele estava trabalhando na Recebedoria de Rendas, na Ribeira. Disse, ele sabia. Agora, de Olga Passos nada lhe vinha à imaginação momentânea. Uma bela jovem, vestida de cetim bucal estampado floral listrado de rosa azul. Era o que Rizzo percebia.
Em um momento, o garçom veio servir o rapaz, com vinho e peixe frito. Rizzo agradeceu. Um dado momento a jovem moça sumiu de vez. O homem, estonteado, buscou encontrá-la por diversos cantos e não a encontrou em canto algum. Ele sentiu vontade de perguntar ao garçom o destino de Olga, porém nada feito. Enfim se desculpou consigo mesmo.
Rizzo
--- Deixa pra lá. - - murmurou consigo
Enveredou na comida e na bebida saboreando aquele peixe com o costume de um avarento comedor de xarias. No salão grená a turma continuava a discutir a questão da Guerra cada um dizendo o seu ponto de vista.
Pessoa
--- Ele morreu! Acabou! Morreu! Ora essa! - - discutia um dos tais todo vermelho de raiva
Outro
--- Hitler fugiu em um submarino seu merda! - - respondia o outro batendo na mesa.
Terceiro
--- E a mulher dele? Eva Braun! Ela fugiu com Hitler? - - indagou um dos que estavam no debate.
Primeiro
--- Claro! Claro! E os generais também. Fugiram para a Argentina! - - debateu com rancor
Eduardo Rizzo apenas ouvia a discussão dos implacáveis. Alguns saíram do salão e no meio deles seguia a moça Olga Passos sem ouvir mais nada daqueles bardos. Nesse ponto, o homem notou sua presença sem acompanhante. Quis correr, mas era tarde demais para alcançá-la. Olga desceu a escada que dava para a rua e, certamente tomou um Bonde que passava em direção a Cidade Alta. Provavelmente. O olhar de Rizzo marejou de raiva ou decepção. Passada a hora, já tarde do dia, Eduardo caminhou em direção a Agência Pernambucana, de Luiz Romão onde se comprava jornais do dia, livros, revistas e se podia ouvir música espalhada pelos autofalantes do lugar. Ele passeou pela avenida Tavares de Lira vendo os carros novos e velhos, os bares por ali existentes, os cafés na esquina até entrar na Agência. Ali, tropeçou nos pês de uma moça a qual se desculpou. Foi então que Rizzo visualizou a pessoa. Era a mesma criatura do Grande Hotel. Rizzo mais uma vez estava diante daquela mulher ou moça.
Rizzo
--- Perdoe-me. Foi um tropeço sem querer. Perdoe-me. - - falou bem-educado.
Olga
--- Não houve nada. Apenas as revistas. - - respondeu em troca a jovem moça.
Nesse ponto, Rizzo já meio atrapalhado apanhou as revistas de Moda para entregar a jovem.
Rizzo
---Ora se não houve? As revistas. Tome-as. Queira me perdoar. O seu nome é Olga? - -
Olga
--- Sem. Olga. Olga Passos. E o vosso? - - quis saber com atenção
Rizzo
--- O meu? Eduardo. Eduardo Rizzo. Eu sou um desastrado. - - tremendo de medo
Olga
--- Ora! Não tem importância. Essas revistas não têm nada de mais, - - e recebeu as revistas
Olga Passos sorriu e saiu caninho a fora vendo as revistas que quase as perdia se não houvesse a ação do “desastrado” italiano ou coisa assim. Ela esqueceu de saber onde trabalhava o moço. Olga era solteira. Rizzo, a moça não perguntara. Talvez ele fosse casado. Talvez, não. Uma coisa Olga tinha certeza: Eduardo era um homem bonito e bastante educado. Certo espaço, Olga se virou para ver de o rapaz tinha entrado na Agência ou seguiu para outro local. Mas não obteve resposta da sua curiosidade. Um vendedor de jornais passou pela moça e ofereceu um exemplar do dia. Olga torceu a vista como querendo dizer já ter comprado de outros donos.
Olga
--- Não me servem. Eu já adquiri os meus. - - e balançou as revistas na cara do gazeteiro. E sorriu
O gazeteiro também sorriu e se afastou mais que depressa gritando “olha o jornal”. Era a vida cruel da gente pobre. Em outra esquina tinha uma quitanda onde se vendia coisas triviais, inclusive revistas a moda. Olga veio para observar os figurinos expostos no sebo. Na cigarreira tinham muitos artigos. Mesmo assim, nada de importância. Xuxá, Super-X, Tarzan, Mandrake, Nokia e tantos outros. Quando Olga se voltou, viu, de imediato afigura do moço que derrubou suas revistas. Ele caminhava apressado e a moça o seguia entre o povo todo que vinha e ia pela calçada da avenida Duque de Caxias. Mais além, em uma esquina da rua Rizzo parou para entrar. Era ali a Recebedoria de Rendas. De repente, Olga também se deteve.
Olga
--- É ali que ele trabalha. Ah. Eu não preciso nem olhar. - - murmurou sozinha
Um vento forte sacudiu as vestes da senhorita, quando a moça se deteve para guardar as suas roupagens. Rapazes olharam para ver melhor as curvas da moça. Olga se encostou à parede antes da esquina se resguardando da imprudente ventania. Um carro apressado passou e o motorista buzinou insistente e a moça não ligou para quem dirigia. Apenas ficou aguardado melhores momentos.
Alguém
--- Vem chuva. - - disse um homem.
De repente, um respingo. Outro mais. O Céu se fechou. A chuva caiu de vez. Muita chuva. Olga correu para a repartição que ela não sabia para que. Ela estava no Rio de Janeiro nos últimos anos e era costume se precaver da chuvarada. Um homem batia com força a fechar depressa portas e janelas. E a chuva caía copiosa enchendo com todo o seu modo ruas e calçadas, casas e moradias como se fosse um dragão.
Homem
--- É chuva muita. Quando nem menos se espera o Céu se rompe! - - falou um serviçal a fechas as janelas.
De repente um homem, Eduardo Rizzo, se aproximou a jovem mulher. E indagou.
Rizzo
--- A senhora aqui? Entre. Venha. Vamos sentar-nos lá dentro. Está molhada? - - espantado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 26 - -


VIDA AMARRADA
Naquela manhã de domingo, Racilva fez caminho com sua amiga Kátia, levando também o seu filho Junior para passar o dia na praia de Ponta Negra. Naquele ponto já teve muitas histórias como a de um homem já velho e que muita gente daquele recanto o conhecia por “Velhaco”. Era um homem simples, calças e camisas sujas, maltrapilhas como o tal. “Velhaco” já estava naquela época com seus setenta anos ou mais. Era um pescador nas horas vagas e suas calças eram puxadas até o meio da canela, enroladas assim mesmo. Homem pequeno, de um metro e meio de altura, contador de história, as mais absurdas da vida. A mulher ainda jovem desceu do ônibus levando o seu amado pimpolho e acompanhada, seguida da companhia de Kátia. No caminho, Racilva comentou que aquela rua já fôra toda de pedrinhas, levando da parte de cima até ao mar onde havia apenas as jangadas e nada mais. Na descida da ladeira, Racilva contou uma história dita pelo ancião “Velhaco”, há bastante tempo. Ela contou como se fosse ontem.
Racilva
--- O meu pai contava uma história dita pelo velho senhor “Velhaco” que viveu aqui por muito tempo. Se era verdade ou não, faz parte da história!
Kátia
--- “Velhaco”? - - gargalhou como demais.
Racilva
--- Sim. “Velhaco”. Era como os nativos lhe chamavam. Segundo o velho, era uma moça que dizia ter uma vida conturbada e misteriosa, segundo a própria. Ela era neta de uma verdadeira índia que tinha um ‘guia’ como se chamava na religião da moça. Então, a garota Irene deixou a cabana por sofrer demais sendo a única filha loira, branca, dos dez irmãos bem morenos com olhos meio puxados.
Kátia
--- Vá ver que o pai era europeu. Naquele tempo, os brancos faziam amor com mulheres índias! - -
Racilva
--- Pois é. A sua avó, sofrendo humilhações dos irmãos, dos pais e dos moradores locais, no dia que ela veio para a cidade sair daquele sofrimento, a mãe de Irene, a bisavó da infante, lhe rogou uma praga que ela nunca quis falar. A mãe índia da mocinha tem premonições, visões, vê espíritos. Mas nunca quis falar no assunto. Levando a vida que se reserva. Bartira, mãe de Irene, começou a trabalhar em uma casa e lá conheceu seu futuro marido. Casou e teve seus quatro filhos. A filha caçula era a menina Irene.
Kátia
--- Não tem diferença de hoje! –
Racilva
--- Quando a mãe de Irene já era nascida, o seu avô morreu assassinado. Resumindo aqui a vida da mulher índia Bartira, era difícil. Sentindo perturbada, entrou para a Igreja e tudo começou a caminhar. Sozinha, dona Bartira deu conta do Colégio dos quatro filhos. A mãe de Irene conheceu o seu marido, seu Nicácio, quando ela estava com 13 anos e ele, com 26. Começaram a namorar e noivaram. De acordo com o sogro da mocinha, Nicácio era o homem mais cobiçado da época. O pai de Irene, um grande galanteador, já tinha sua má fama. Mas a mãe de Irene sempre foi positiva. Estava apaixonada! As mulheres, todas ficaram com ódio de dona Bartira, a índia. Macumba para lá, macumba para cá e ela sempre na Igreja desfazendo o que era o mal. O pai de Irene, naquela época, um homem misterioso, era totalmente amável. O sonho de qualquer mulher.
Kátia
--- Ave Maria!!! - -torceu as mãos com uns pinicados no corpo.
Racilva
--- Te ajeita!!! Nicácio era um homem romântico, lindo e muito carinhoso. A mãe de Irene, achava que havia tirado a sorte grande, estava intimamente apaixonada e feliz até que ficou sabendo que a família do seu pai estava fazendo de tudo para Nicácio terminar com Bartira, uma vez que a índia era pobre e família de Nicácio queria uma mulher rica e maravilhosa para o homem. Não se importando com nada Nicácio se casou com Bartira. A família de Nicácio foi toda de preto para o casamento. Uma cena de horror! A gravação, que era uma musica linda, esconderam no baú. Foi posta uma outra parecendo um filme de terror. –
Kátia
--- Que tristeza! - - disse a moça
Racilva
--- Pois bem. No dia em que Irene nasceu e o pessoal saiu da Igreja, a vida da mãe Bartira virou um inferno. Bartira engravidou de Irene e foi uma gestação de alto risco. A mulher sempre pedindo a Deus seu bendito socorro e para Irene não ver espíritos, igual a sua avó que vivia vendo. Bartira entrou em depressão e no dia que a sua filha saiu da sua barriga e foi entregue aos braços fracos de sua mãe Bartira, a tia de Irene chamada de Lúcia levou a menina com a maior raiva vendo a mãe Bartira sem poder fazer nada. Simplesmente doente, Bartira teve que ficar no Hospital por algum tempo. Enquanto isso Irene ficou nas mãos da família de Nicácio com uma grande briga entre famílias para quem havia de cuidar de Irene.
Kátia
--- Coitada! Triste sina! - - lamentou
Racilva
--- Pois é. Quando Lucia, a tia de Irene tirou a menina dos braços de Bartira, a mulher disse para Bartira, coisas que a mãe de Irene nunca esqueceu: “Essa garota nunca irá ser feliz. Tudo o que puder para tirar sua paz, eu vou tirar”. E saiu com a criança do hospital. Bartira, piorando a cada dia, fugiu da casa de saúde e então ouviu de uma mulher mais velha lhe dizendo: “Se você continuar aqui, você vai morrer. Mantenha a sua filha”. E a mãe de Irene já conhecendo a situação e sabendo das coisas que a sua mãe levava, saiu do Hospital com ajuda do seu parente. Ela chegou em sua casa e pegou a sua filha. Mas havia uma diferença; aquele bebê dos olhos negros, cheia de saúde no Hospital, estava fraca, muito doente, com risco de morte e toda avermelhada.
Kátia
--- Que situação! E agora? - -
Racilva
--- A menina foi levada a vários médicos por sua mãe, debilitada, e em todos os médicos ninguém conseguia curar o bebê. Ate que a sua avó se rendeu a sua antiga religião e tomou a frente da situação dizendo:” Minha filha e minha neta não vão morrer, pois não vou deixar”. E fez os remédios típicos de onde morava. Seus rituais e finalmente Irene e sua mãe Bartira melhoraram. O seu pai Nicácio voltou para viver com a sua família. Bartira não mais o reconhecia. Ele era o diabo em pessoa. Esquisito! Frio! Falava sozinho com papeis, amuletos e satanismo por onde andasse. A sua esposa era proibida de mexer nos pertentes do homem.
Kátia
--- Depois da bonança vem a tempestade! Deus do céu. - - falou a moça.
Racilva
--- Houve um tempo em que a mãe de Irene qui se separar, a Igreja não permitiu, a mulher entrou em estado de depressão, o marido sumia, voltava sempre esquisito com seu olhar maligno. Até que dona Bartira engravidou. Agora de um menino. Irene tinha seus quatro anos e já lembrava de algumas coisas dessa época. A menina sempre via ‘sombras’ que puxavam os seus cabelos, aterrorizavam empatando o seu sono. Na verdade Irene nunca foi de dormir. Desde recém-nascida ela não tinha sono. O seu pai torturando a sua mãe e Irene via a sua mãe encostada na parede da cozinha, em baixo do forno, chorando e Irene vendo em seu lado sombras negras e um ser estranho de olhos amarelos do lado dela. A menina não podia contar para ninguém e chegou a ser impedida sua avó materna. Aquela que era pura índia.
Kátia
--- Coitada! - - e debruçou sua cabeça entre os braços, a chorar.
Racilva
--- Mesmo com tudo que a menina via ela não tinha medo. Ela via anjos, luzes boas que lhe acalmavam e deixava a sessão de estava tudo bem. Irene falava que nunca teve amigos nesse mundo físico e brincava com luzes em forma de criança. A sua mãe teve seu irmão em uma gravidez de mais alto risco ainda. Só que dessa vez a avó de Irene tomou à frente e não deixou o que acontecia com Irene. O seu irmão nasceu saudável e se reabilitou rápido. Um dia, a irmã de seu pai trouxe alguns pedaços de bolo para Irene e sua mãe. Isso trouxe desconfiança para dona Bartira. Não deixou os filhos comer. Bartira correu para o telefone e quis saber de sua mãe, a índia, para falar do presente. Irene, inocente, nunca viu um bolo feito com caldas e pegou, escondido, comendo tudo, sem a sua mãe saber. Bartira pegou os restos do bolo e entregou para a sua mãe que deu para os animais. No dia seguinte Irene passou mal quase perdendo sua pressão. A criação da avó da menina, todas ficaram girando e batendo a cabeça na parede até morrer. –
Kátia
--- Coisa triste! - - falou lacrimosa a amiga de Racilva.
Racilva
--- Mais uma vez outra mulher do Hospital declarou: “A cura dessa menina é espiritual”. - -

domingo, 21 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 25 -



ENTIDADE
Era um sábado pela manhã. Eu Muniz, pai de Racilva estava em casa lendo uma revista de casos do outro mundo. Nesse ponto, chegou Racilva após um rápido passeio com o seu filho Junior, passeando em volta do parque existente por todo o caminho. O menino penetro em sua casa nem obedecendo a sua mãe para que devesse cuidado nas roseiras arrumadas em cantos especiais da moradia. Do jeito que vinha, o menino embrenhou-se por casa a dentro. O senhor Muniz estava lendo as revistas e viu o menino a entrar, e gritou em instante.
Muniz
--- Abenção? - - com atenção ao garoto
Racilva
--- Nem ligou. Com certeza está se mijando! - - gracejou
Muniz
--- Cora está lá dentro. Ela cuida do garoto! - - sorriu.
Racilva
--- Revista nova? - - perguntou ao pai.
Muniz
--- Nem nova, nem velha. Tem artigos que impressionam. Um aqui é de assombrar moças. Quer ler?
Racilva
--- Leia o senhor que eu escuto. - -
Muniz
--- Leia você mesma. - - concluiu o idoso
Racilva
--- Entao, eu leio. Por favor. Deixa-me ver. - - relatou
Racilva
--- O homem ficou como estava sentado, coçando a cabeça como se tivesse tirando piolhou e se escorou na cadeira antiga coberta de couro de bezerro. E Racilva começou a ler em voz quase alta para o seu pai ouvir bem. Foi um caso ocorrido em Natal, pelo que diz a narrativa, disse a moça. A moça que contou a história morava em um apartamento de aluguel, um local muito bom, em companhia de seus pais. O apartamento era uma morada perfeita, se não fosse o que viria a acontecer. – - Racilva perguntou a seu pai se estava ouvido. Esse disse que sim
Muniz
--- Sim. Continue. - - respondeu o homem.
Racilva
--- Pois bem. Numa tarde qualquer ela, a moça, saiu com sua mãe visitar a Denise, uma amiga que morava na parte alta do bairro em frente ao da moça, vamos dizer Sandra. Da casa de Denise podia se ver o apartamento de Sandra assim como grande parte da cidade. Na hora que Sandra resolveu sair para o seu apartamento, a moça deu a costumeira olhada na vista quando a moça notou no seu apartamento que a luz do seu quarto estava acesa e notou o contorno de um homem que olhava pela janela aberta. Por um instante Sandra julgou ser o seu pai que trabalhava fora da cidade e que poderia ter vindo em casa pegar algo antes da próxima viagem. - - ouviu bem meu pai? Indagou a moça.
Muniz
--- Sim. Sim. Continue. - - respondeu seu Muniz.
Racilva
--- Então! Sandra mostrou a cena para a sua mãe e na mesma hora ela pediu a Sandra que confirmasse se era ele mesmo quem estava lá. Ela fez a ligação perguntado se era o seu pai que estava no seu apartamento e como resposta o pai responde que não. Ele, o pai, naquela hora estava a serviço em uma cidade próxima. Sandra, sua mãe e os demais ficaram muito assustados, uma vez que a moça ao sair trancou à chave quando saiu do apartamento e até mesmo cadeados das janelas estavam escondidas em um local seguro e ninguém mais tinha acesso a casa. Como não tinha certeza do que se tratava, ladrão ou não, Sandra e a sua mãe decidiram não chamar a polícia. Então eles foram na cara e na coragem para saber o que raio o que estava a acontecer dentro do apartamento. - - ouviu pai?
Muniz
--- Sim. Ouvi. Continue. - - declarou o velho.
Racilva
--- Hum! Eram cinco. A Denise; a sua filha, Rosa; e o seu neto, Diego. A mãe de Sandra, dona Edite, e a própria senhorita Sandra. Elas se armaram de facões, uma foice e uma barra de ferro que estava na garagem e então todas entraram. E dentro do apartamento elas reviraram tudo. Por baixo das camas, dentro dos armários, guarda-roupas e em cada canto em que pudesse se encontrar uma pessoa. A casa estava do jeito que Sandra deixou. Tudo trancado, luzes apagadas e todo resto em seu devido lugar. Com o seu pai estava fora Denise se ofereceu para passar a noite com essa família. E por medo, dormiram, todas, no mesmo quarto. A mulher, Denise, tinha fobia de ambientes fechados. Então. nesse dia, dormiram com a porta destrancada, simplesmente aberta. Desta forma, a cabeceira da cama improvisada onde Denise estava, era virada em direção da porta da cozinha. - - e Racilva viu seu pai dormindo. Então chamou mexendo em sua cadeira. O homem se assustou e disse.
Muniz
--- Não estou dormindo. Vá. Continue! - - e se voltou a balançar em sua cadeira.
Racilva
--- Hum! Quando o dia amanheceu Sandra se deparou com uma Denise muito assombrada. A mulher disse nunca ter passado por um aperto tão grande. Logo depois que Sandra adormeceu, Denise teve uma sensação muito ruim e a olhar para o corredor, viu um homem negro, alto, vestido de vermelho e preto, adentrar a porta da cozinha, sem abri-la e veio direto em sua direção. Ela contou ter perdido as forças. E a única coisa que teve em mente foi rezar e pedir socorro a Deus. Quanto mais rezava, mais a entidade ria e debochava do desespero dela, desaparecendo no ar com uma gargalhada ao se aproximar da cama onde Denise se abrigava. - - Racilva olhou o pai a dormir. Nem ligou
O homem roncava feito um porco. Racilva nada fez para desperta-lo. E seguiu lendo.
Racilva
--- Algum tempo depois, Marcia, a irmã de Denise, que é médium, procurou Sandra para conversar sobre o ocorrido. Segundo ela, a culpa era da senhora dona do prédio que queria desocupar todos os apartamentos afim de alugá-los por valores mais altos. Mas por questão de contratos a mulher não podia pedir às famílias que se mudassem. Então recorria as almas para ajuda-las a resolver essa situação. O que ela não sabia era que estava mexendo com entidades muito mais pesadas do que almas sofrendo por falta de oração. E nem fazia ideia da dimensão que a coisa tomou. Pessoas próximas da dona do prédio comentavam seus hábitos estanhos de incomodar as almas para tudo. Mas nunca se pensava que a mulher fazia algo do tipo contra a família de Sandra e Denise. –
O menino Junior chegou na sala e apontou para o rosto do seu avô a roncar feito um porto. Racilva sorriu e pediu que o deixasse dormir. Junior voltou para a cozinha.
Racilva
--- Essa época foi um período ruim na vida das três famílias que lá moravam. Por algum motivo, os mais afetados eram os membros mais novos de cada uma delas. Sandra, sua mãe e seu pai se mudaram do apartamento. Mesmo assim a moça teve uma depressão não se livrou até momentos seguidos, passando noites em claro, vivendo perturbada e quando conseguia dormir, tinha pesadelos pavorosos. Falavam palavras para Sandra descrever. A sua mãe também presenciou alguns fenômenos e eram quase sempre nos momentos que rezava. Era como algo se sentisse incomodado com as orações que a mulher Edite fazia. Ainda hoje ela fala sempre lembrar com um grande pesar e agradece pela paz que tem nessa vida atual. –
Muniz
--- Terminou? Como se deu? - - indagou acordando de vez.
Racilva
--- O senhor não ouviu? - -
Muniz
--- An. Eu dormi mesmo. Estava com sono. Achou que vou tomar banho! –
Racilva
--- Isso! É bem melhor. –
Kátia bateu à grade do portão e fez-se entrar sem mais nem menos. Olhava em várias direções e sorria como uma andorinha. Racilva suspendeu a vista e, delicadamente findou por sorrir. Um passo e um abraço apertado. Uma pergunta e outra resposta.
Kátia
--- Eu vim do sebo. Gente pouca. Nove horas. Que mais? - - sorriu.
Racilva
--- Muito cedo. Podia ser 12 horas. - - retribuiu o sorriso.

AMORES DE RACILVA

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 24 - -



O MAL
Na manhã daquele dia Racilva estava em sua casa, lendo um opúsculo sobre magia, o livro de São Cipriano o Bruxo quando surgiu à porta que dava para fora residência a sua amiga de sempre, Kátia Sobreira. A moça vinha de uma parte da cidade, com certeza a Ribeira ou outro bairro qualquer com uns pacotes debaixo do braço. Reclamando do calor que fazia, Kátia foi ao ponto da conversa, sem mais porquê. E logo mais que conversa a moça mostrou um livro já desgastado que comprou em um sebo instalado no Beco da Lama. Era o Tiçuru um rio após o Baldo da Cidade do Natal. Era a principal fonte de abastecimento de água para os moradores da hoje da chamada Cidade Alta. Kátia sorria de felicidade foi quando desviou o olhar e viu o opúsculo de São Cipriano. Então, indagou.
Kátia
--- Que livro é esse? - - indagou admirada.
Racilva
--- Um livro de São Cipriano. - - dizendo isso, sorriu.
Kátia
--- Ah. Já sei. O macumbeiro. - - e pegou a brochura.
Racilva
--- Pode ser chamado assim. Mas nem sempre o é. Eu até tenho um caso para te contar. E não tem nada com o São Cipriano. Mas tem a ver com casos de macumba. –
Kátia
--- Conte. Eu quero saber. Sou toda ouvidos. - - falou a moça
Racilva
--- Pois bem. Como se diz: quem deseja o mal e faz mal aos outros, recebe três vezes de volta, esse relato é uma comprovação do assunto. O relato que vou te contar é real e ocorreu em uma família daqui da nossa cidade há alguns anos passados. Um cidadão daqui era advogado bem conhecido em nossa cidade. Em anos passados esse advogado de nome Meroveu foi contratado pelo um senhor português seu Manoel dono de uma padaria para realizar o seu desquite. No tempo não existia divórcio no Brasil. O motivo da separação é que estava ciente da sua esposa, Lourdes, estava fazendo vários trabalhos de baixo espiritismo e frequentemente o traía com alguns de seus assistentes de magia negra. –
Kátia
--- Que horror! Que mulher baixa! - - disse a moça exaltada.
Racilva
--- Então. O dono da padaria não gostava de patrocinar ações de família. Mas como o Doutor Meroveu era cliente antigo o advogado aceitou a causa e iniciou o processo. Para se ter uma ideia de como a esposa tinha má índole, a própria filha do casal, com 16 anos, em plena audiência, diante do Juiz defendeu o pai e disse em alto e bom som que a mãe não valia nada e que ela – Lourdes – não prestava. Uma vez que as causas de desquites eram fortes e com a denúncia de traição a dissolução da união foi homologada pelo Juiz. Dias após o término da ação, uma vizinha da frente da casa do doutor Meroveu informou ao advogado que um rapaz tinha parado em frente ao portão e havia jogado um pequeno embrulho no telhado. No mesmo dia o doutor Meroveu pediu para um rapaz do escritório seguisse até lá e pagasse o objeto Naquele embrulho havia duas velas, uma preta e outra vermelha, amarradas com um tipo de cipó preto. O doutor Meroveu, percebendo que era um tipo de “trabalho” foi a um conhecido senhor de umbanda da cidade e informado que realmente era um trabalho de Macumba.
Kátia
--- Nossa! Fizeram serviço para o advogado? E por que? - - espantada.
Racilva
--- Espere! Assim, seguindo a orientação do diretor do Centro, jogou o pobre embrulho no rio. Muito tempo depois ele, o advogado, descobriu que a vela vermelha era para acessar mente e nervos, e a preta, destruição. Contudo, naqueles meses o ambiente em casa ficou tumultuado. A esposa de Meroveu demonstrou graves alterações de humor, criava muito caso com seu esposo, gritava e reclamava do casamento, queria se separar e que estava nervosa e cansada. Coisas que nunca fez ou que tinha falado antes. Dias depois, com o comportamento da esposa, Dr. Meroveu retornou ao Centro Espírita, em uma sessão e identificou que havia outro trabalho colocado em casa. Só que, enterrado.
Kátia
--- Virgem Maria! - -a moça se benzeu em cruzes.
Racilva
--- Disseram que esse “trabalho” era muito mais forte e visava plantar desavença e dificuldades em realizações profissionais e pessoais. Como o jardin de sua casa era grande, o advogado resolveu chamar um jardineiro e retirar toda a grama e a terra da frente. Logo no inicio o jardineiro encontrou um embrulho com osso e terra dentro do pacote. E foi um “trabalho” que os médiuns falaram no Centro. O homem jogou o “trabalho no rio e o Centro fez sessões para proteção do advogado e de sua família. Com isso, a sua esposa acalmou e a vida seguiu normalmente.
Kátia
--- Ainda bem. - - disse a moça
Racilva
--- Mas, numa tarde de sábado, um rapaz de 20 anos ou mais, bem magro, vestindo roupas velhas pediu que gostaria de falar com o dono da casa. Nesse mesmo momento o advogado, que estava ouvindo o jogo pelo rádio, foi até a porta e pediu que ele entrasse. O rapaz falou que não ia entrar na casa porque era indigno e que estava para pedir desculpas. E o advogado ficou surpreso perguntando o que o rapaz, afinal, queria. O rapaz disse que foi amante de uma mulher, casada com um padeiro, cujo nome ele não iria mais pronunciar. Disse ainda que há anos, a mando dessa mulher, foi na casa dele para pegar um “trabalho” e jogar em cima do telhado na casa do advogado e que depois escondeu terra de cemitério no jardim. Então, naquela hora estava arrependido. Contou que a convivência e a vida com a mulher foram uma desgraça. Passou fome, não conseguia trabalho, era malvisto pelos parentes dele e conhecidos que se afastaram dele. A sua vida travou em tempos mórbidos. Mesmo se separando da tal mulher passou anos com as dificuldades financeiras e emocionais. Fugiu da cidade, viajando sem rumo em direção a Minas Gerais. Ficou anos, parando para encontrar emprego em toda cidade por onde passava. Mas, continuava sozinho. Sem família e nunca conseguia nada. Afirmou que tinha vergonha e que escondia a todo custo o seu envolvimento com magia negra. Sem ter o que comer, foi o rapaz a um Centro Espírita numa cidade do Triangulo Mineiro quando um médium que nunca o viu antes lhe disse:
Médium
--- Você fez mal a uma pessoa inocente e lhe desejou coisas ruins. O “trabalho” foi desfeito, mas a sua vida está travada até que obtenha perdão dessa pessoa.”
Racilva
--- Ao falar isso, descreveu como era a pessoa, a cidade, o local da casa, o “trabalho” que tinha feito, em detalhes. O advogado Meroveu ficou atônito com a história e lhe disse que ele, o rapaz, estava perdoado e que tudo era passado. O rapaz agradeceu e que nunca mais voltaria para àquela cidade e nem o incomodaria mais. A dívida cobrada durou anos e foi muito mais cara.
Kátia
---Nossa! O mal sempre morre. É pena sentir o que o rapaz fez. - - soluçou a moça.
Racilva
--- A vida. A nossa vida é cheia de percalço. Nós não sabemos o que fazemos, mesmo depois de desencarnados. Vendo o passado, eu mesma sinto um aperto em meu coração. Não sei de quem, não sei de onde, não sei porque. Eu lembro constantemente de Caio. Sem motivo aparente. Às vezes, eu estou só ou mesmo caminhando nas ruas da cidade e vejo uma figura bem parecida com Caio, o meu marido. Ele vai para onde não sei, dobra uma esquina e some. Tenho vontade de agarrá-lo, mas não tenho poder. Se eu disser a qualquer um, essa pessoa me diz.
Pessoa
--- Isso é normal! Esqueça de Caio! –
Racilva
--- Esquecer, não posso. Não se pode esquecer um amor de tantos anos. Ninguém pode esquecer o marido, o pai, a mãe, os avós. Na se pode esquecer. Não é o não posso. É não deve esquecer um tio, um amigo íntimo ou não. Orar? Faz bem. Mesmo assim eu não posso esquecer a minha avó, minha bisavó que nem a conheci. São apenas lembranças.
Kátia
--- Verdade. Noite dessas eu pensei ou sonhei com meu avô que nem o conheci de muitos anos. Eu era pequena. Vi o ancião apenas no caixão. Me puseram para eu beijá-lo. E eu o baixei. Mas nunca eu o vi no trabalho. Ele trabalhava na Alfândega. E agora eu penso no que o meu avô trabalhava, o que fazia. Nada me vem a memória.
Racilva
--- Você já teve namorado? - -
A moça pensou quem fôra seu namorado.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

SEGREDO DE RACILVA - - 23 - -


MACUMBA
Certo dia Racilva estava em casa lendo As Centúrias de Nostradamos. Eram quase 9 horas da manhã. Sua mãe, dona Cora, estava no interior da casa fazendo algo, com certeza, para o almoço. Nesse instante chegou ao portão e entrou, sem ao menos avisar, a senhora Alzira, mulher bem conhecida do pessoal da casa. Seu Muniz estava do trabalho e Junior, filho de Racilva, tinha ido à Escola de crianças logo cedo da manhã. Um pacote trazido nos braços, dona Alzira nada falou. E Racilva não quis saber também. Deviam ser preparos para alguma macumba, certamente que a mulher tinha adquirido em uma loja no Beco da Lama, no centro da cidade. O certo é que o pacote devia ser segredo. Ervas medicinais e até mesmo um frango e garrafas de bebidas. Coisa normal, com certeza. Negócio que era sigiloso. Então dona Alzira falou passada a hora dos abraços e cumprimentos.
Alzira
--- Menina! As coisas estão caras demais! Nossa Senhora! Eu fui ao comércio e quando paguei é que senti na pele! Coisa horrorosa! Um tiquinho de nada por um preço exorbitante. Ave Maria! Coisa de louco! - - falou a visita de forma exausta.
Racilva
--- Está tudo muito caro. Um horror! - - falou assenhora moça
Alzira
--- Pois é. E dona Cora? Ela está bem? - -
Racilva
--- Sim. Está na cozinha fazendo as coisas! - -
Alzira
--- Ah, bom! Ontem apareceu lá em casa uma moça de nome Lívia cheia de problema. Contou a moça que ela era uma grande amiga de outra moça, a Flávia. A Lívia tem 24 anos de idade e contou que estava em um grande aperto. Lívia e Flavia estudavam no mesmo colégio e quando terminada a aula elas seguiam o mesmo caminho. No final do curso elas se matricularam na mesma Faculdade. Faculdade de Letras. Todas juntas. Disse Lívia que Flavia sempre foi a garota mimada. Filha única e mandona. E sempre que passou esses anos Lívia sempre foi a sua escrava em tudo.
Racilva
--- Imagine só! - - e sorriu.
Alzira
--- Pois é. Festas escolares, trabalhos, até em relacionamentos Lívia era obrigada a ajudá-la. Caso contrário, as duas entravam em brigas. Uma vez, Lívia deu uma vaga de emprego que havia conseguido para si a amiga Flávia, uma vez que Flávia fôra demitida do seu trabalho por justa causa. Lívia contou que sempre foi para Flavia uma boa amiga e o que aconteceu com Lívia, ela não desejava nem para o seu pior inimigo. Na época, Lívia namorava o Lucas e estavam juntos desde o primeiro ano do Colegial.
Racilva
--- Namoro longo, heim? - - sorriu
Alzira
--- Pois sim. Com o Lucas já convivendo, Lívia estava esperando uma garotinha do casal que se chamaria Laura. Isso, já no quinto mês de gestação e tinha programado o casamento para o nono mês. Certo dia eles combinaram passar em uma lanchonete, do lado de fora da Faculdade, antes de ir para a aula. Então, Flavia chegou na casa de Lívia no objetivo de se arrumar, tomar banho enquanto Lucas, o futuro esposo de Lívia, lavava a louça na cozinha fazendo parte da mãe de Lívia, a dona Glaucia que se ocupara em passar roupa na varanda. Lívia deixou a chave do seu quarto e foi até a sala procurar algo na sua bolsa. Flavia ficou dentro quarto, sozinha, quase uns dez minutos. Quando Lívia retornou encontrou a amiga com um dos seus batons em suas mãos. As outras maquiagens, estavam todas espalhadas em cima da cama de Lívia. Flavia sussurrava alguma coisa e passava a ponta do dedo por cima do batom.
Racilva
--- Perigo? - - indagou cismada.
Alzira
--- Não sei. Vamos à frente! Sei que Flávia soprou três vezes. Lívia ficou observando e logo após se aproximou. Flávia desconverso dizendo que estava pesquisando as maquiagens da amiga para saber qual marca era a melhor, no intuito de comprar algumas. Isso não importou a Lívia e até a ajudou a escolher passando o batom chegando a tirar uma foto, como amigas costumam fazer. Ao sair da casa de Lívia, a amiga olhou para a outra, suspirou e disse: “Acho que algo de ruim vai acontecer com você”. E a amiga Lívia se espantou e, alarmada, indagou: “Comigo?”. Não era bom ouvir isso de sua melhor amiga.
Racilva
--- Nem morta! E o que deu? - - indagou
Alzira
--- Pois é! Sei que passados alguns dias Lívia começou a passar mal e chegou a pensar por conta da gravidez, que era saudável e normal. Lívia passou a vomitar constantemente, sentindo fortes dores, desmaiar e até sentiu convulsões. E em uma dessas, Lívia acabou perdendo o bebê. Foi o fim. Ela pensou que fosse entrar em uma depressão até morrer. Então a Flávia foi mais que deu apoio a amiga nesta fase depressiva da vida de Lívia. Então, Flavia dizia que a amiga Lívia iria engravidar novamente, pois o Lucas era um bom namorado e teria compreensão a todo instante. Mas, tudo foi piorando!
Racilva
--- Coitada! - - lembrou do seu marido não sabe o porquê.
Alzira
--- E semanas se passavam, a mocinha continuava a ter convulsões, vomitando, com dores. Mas era um mal, um mal tão forte que em certo ponto ela não sentias as suas pernas e muito menos os braços. Ela conseguia se movimentar chegando até andar em cadeira de rodas por uma semana. Com o tempo não conseguia Lívia mais levantar da cama. Pareceu isso num dia que acordou para trabalhar. E teve que trancara Faculdade dias depois por incapacidade física, até estar totalmente em estado vegetal. O tempo passou e Lívio se sentiu melhor de saúde. Pelas noites ela estava a ver vultos e massas negras que chegavam ao teto. Algumas dessas massas eram tão grandes que ao se curvarem, a cabeça tocava o chão. Era desesperador.
Racilva
--- Meu Deus!!! Que coisa! – falou alarmada
Alzira
--- Então. Em um estado daqueles ela não conseguia se mexer. Lívia rezava mentalmente e ela, então, se apagava demais. Lívia sempre contou isso ao Lucas. Tentou alertá-lo do que estava ocorrendo com Lívia. Mas ele nunca acreditava. Ele ficou cada vez mais agressivo com a sua mulher. Aquele homem doce que sempre amou Lívia, passou a sair de casa, beber e se drogar até que terminou seu romance e em definitivo, sumiu. Desapareceu. Era ele quem cuidava de Lívia porque a mãe de Lívia já era de idade e não podia fazer muita coisa. A moça perdeu a fala. Entao Lívia se sentiu uma “coisa” numa cadeira de rodas, sem mover o corpo, sem falar. E Lívia perguntava: “Onde minha vida tinha chegado? Eu havia perdido a minha filha, o meu namorado, a minha Faculdade, os meus movimentos. Sempre me questionei se foi Deus isso de mim por ser muito ceticista. Mas não fazia sentido. Eu respeitei as crenças e tudo mais”. Foram longos meses assim! –
Racilva
--- Foram longos meses! É uma provação! Longos e eternos meses! - - lembrou o seu marido
Alzira
--- Longos meses! Lívia passou por vários médicos, psiquiatras e nada lhe foi diagnosticado. Lívia fez fisioterapia, aulas para voltar a nadar, para falar, para a andar. Mas nada. Nada era capaz de fazer a voltar o que Lívia o que era antes. Foi, então, que uma vizinha, a Valquíria, que era bastante médium, foi até a casa de Lívia levar as roupas que ela arrumava para a mãe da moça. Assim que ela pisou na casa de Lívia, seu corpo foi alavancado para trás e ela gritou: “Tem algo muito pesado nesta casa!”. Nunca ninguém sentiu essa forma estranha. Valquíria buscou ajuda falando comigo e eu fui acudir a mulher. E eu benzi cada milimetro da casa. Até o cachorro. Na mesma semana a Flavia apareceu. Ela ficou mais próxima de Lívia que estava paralítica e sem falar. –
Racilva
--- Aleluia! Foi ela mesma! Aleluia! - - gritou a moça
Alzira
--- Pois bem. Flavia se aproveitava em tudo porque Lívia fazia nada fazer. Pegava o dinheiro que a mãe de Lívia recebia para comprar os medicamentos para a filha e gastava com outras amigas. Flávia se aproveitava porque a velha amiga nada fazia. Uma vez, muitos antes, Flávia passou uma pena de galinha preta na cabeça de Lívia e disse: “Você vai morrer nessa cadeira. Lamento. Vive quem pode”. Flávia fazia macumba na frente de Lívia e com objetos de sua mãe. Flávia estava gravida de Lucas e vivia junta com ele. A mãe de Lívia, a idosa Glaucia, veio a falecer duas semanas depois. E eu fiz o que pude para curar a moça Lívia. Com o tempo, Flávia perdeu o emprego, trancou a Faculdade o seu filho embrião morreu ao sexto mês de gestação. Eu cuido da Lívia. Ela recuperou o andar. Lucas deixou a Flávia e mudou de país. Um dia desses, Flávia veio pedir desculpas a Lívia. Então, a mocinha tacou a muleta na cara de sua inimiga. E rebentou a mandíbula da infame.
Racilva gargalhou pela vingança feita!